Quantas vezes acordamos no meio da noite assustados com um pesadelo
ou incomodados com o desfecho de um sonho? Não seria bom se pudéssemos
controlar o que se passa em nossas mentes durante o sono? Bom, uma
equipe de pesquisadores do Instituto Picower de Aprendizado e Memória,
ligado ao MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA) conseguiu
fazer algo parecido – com ratos.
No estudo, o grupo usou como base a maneira como o hipocampo
(estrutura localizada nos lobos temporais do cérebro) processa
experiências e as transforma em memórias. Durante o sono, ele “repassa”
parte das situações que vivenciamos ao longo do dia. Seria possível
influenciar de alguma maneira esse “replay”?
Para testar a ideia, os pesquisadores treinaram um grupo de ratos
para percorrer um labirinto enquanto ouviam determinadas faixas de
áudio. Havia dois tipos de som, e os ratos logo aprenderam qual a
utilidade deles: um indicava que havia comida no lado esquerdo do
labirinto; outro, que a recompensa estava do lado direito. Durante as
atividades, os cientistas monitoraram e gravaram as atividades neurais
dos ratos.
Depois, enquanto os animais estavam dormindo, a equipe fez mais
gravações. Comparando as ondas, o neurocientista Matt Wilson, líder do
grupo, confirmou que os ratos estavam sonhando com a exploração do
labirinto.
Engenharia dos sonhos
Até aqui, nenhuma grande surpresa. O “pulo do gato” (ou do rato, com o
perdão do trocadilho) veio quando os cientistas colocaram as faixas de
áudio para tocar enquanto as cobaias dormiam. Analisando as atividades
cerebrais, eles perceberam que os ratos passaram a sonhar com as áreas
do labirinto associadas à música que estava tocando. Com esse
experimento, Wilson e seus colegas demonstraram que era possível
manipular o conteúdo dos sonhos das cobaias reativando determinadas
memórias durante o sono – nesse caso, usando sons.
Com esse resultado, os pesquisadores acreditam que, futuramente,
poderemos ter um controle maior sobre o conteúdo dos nossos sonhos e o
processo de consolidação da memória – chegando, talvez, ao ponto de
reforçar, bloquear ou mesmo modificar memórias (não exatamente no estilo
“O Vingador do Futuro”, mas ainda assim impressionante). Wilson também
pretende investigar como esse tipo de “manipulação cognitiva” pode ser
usado para aprimorar terapias comportamentais e técnicas de aprendizado.
Guilherme de Souza
é jornalista empenhado e ilustrador em treinamento. Curte ciência, cultura japonesa, literatura, jogos de videogame e outras nerdices. Tem alergia a música sertaneja e acha uma pena que a Disco Music tenha caído no esquecimento.
@gsouzapr
nat@hiperciencia.com

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