Dinâmica de Grupo: Articulação com a conteporaneidade




Vivemos numa época na qual o ser humano é resumido, isso mesmo, fomos reduzidos a resumos, a indivíduos, clientes, usuários, internautas, telespectadores, consumidores, e etc. O Empobrecimento da nossa subjetividade engendrou e fortificou os processos da objetividade, da individualidade e da mecanização do cotidiano, ou seja, das características peculiares da pós-modernidade. Perdeu-se grande parte dos valores e princípios tão bravamente alcançados pelos nossos antepassados, o que nos resta são migalhas de uma sociedade sem identidade, aética e impulsionada a viver numa miséria intelectual.


As maneiras que hoje utilizamos para nos relacionar com o outro surgem de um simulacro da realidade que mudou a nossa forma de comunicação. As redes sociais foram criadas com o propósito de aproximar as pessoas com o objetivo de globalizar, porém foi formado na verdade uma poderosa rede de máquinas travestidas de seres humanos, máquinas que empobrecem e desumaniza as relações interpessoais.


Após o período da revolução industrial as famílias foram ficando cada vez menores tornando-se famílias nucleares. Hoje a realidade é ainda mais decadente. Houve grande perda dos vínculos afetivos, o que é visto na maior parte das famílias e grupos em geral são vidas fragmentadas, relacionamentos recheados de conflitos, agressividade verbal e física, desconstrução da moralidade, grande número de divórcios, filhos agregados, meio-irmãos, tudo pela metade. É raro encontrar famílias que ainda conservem uma estrutura nuclear, pois segundo o senso comum ter filhos é prejuízo, gasta muito, sobra pouco, trabalhar mais pra ganhar mais, isso produz uma fuga estratégica das responsabilidades. A quebra dos vínculos sociais é bastante comum na contemporaneidade e prejudicial na construção da árvore genealógica. Contudo, nos comerciais e programas da televisão, filmes e telenovelas essa estrutura de família unida é bem comum, pois isso faz parte das engrenagens que movem a mídia capitalista, de nos tornarmos pessoas vazias de realidades, e cheias de ilusões provisórias. Em nenhuma outra época se falou tanto em proteção, perfeição e futuro. Constantemente vemos propagandas nos estimulando nos induzindo ao consumo de marcas, e produtos supérfluos.


A mídia tem um papel fundamental na pós-modernidade, usa a sugestão como técnica massificadora e distribui o alimento alienógico da sociedade, ela é a principal responsável pela mecanização das atividades humanas, pela distorção da realidade e consequentemente pela padronização da identidade, estimulando a irracionalidade, desencadeando o processo de crise existencial, haurindo o sujeito do coletivo, o transformando em um indivíduo, um ser individual separado do grupo, moldando dessa forma, a síndrome da perfeição, um ser superior que pode tudo sozinho. É possível identificar nos períodos que precede a contemporaneidade a organização de pessoas revolucionários que lutavam por melhorias de trabalho e qualidade de vida, grupos unidos afetivamente por um ideal de existência. Hoje o que observamos são agrupamentos, indivíduos engajados em seus próprios projetos, presos dentro de si mesmos, vivendo o presente, iludindo-se com o futuro pré-elaborado pelos agentes manipuladores da mídia, indivíduos consumindo e sendo consumidos pelo capitalismo. A dinâmica dos grupos pré-modernos se caracteriza por grupos reais, já a dinâmica dos grupos pós-modernos se caracteriza por agrupamentos virtuais, ou seja, nos interagimos e nos comunicamos através da tecnologia de e-mails, celulares, videoconferência. Criamos uma zona de conforto na superficialidade compreendendo que é mais fácil, rápido e prático ser superficial, pois interagir pessoalmente com o outro exige mais atenção e é cansativo usar expressões faciais, pensamentos reflexivos e gestos de articulação para se comunicar. A verdade é que perdemos a liberdade, isso é, se um dia a tivemos.


A tecnologia é Expert na criação de simulacros como, por exemplo, a sala de jogos online idealizadas para diversão, mascarando e aprisionando a moralidade e a ética, grupos virtuais matando, destruindo, invadindo, trazendo os jogos divertidos, ou melhor, destrutivos para realidade. Falar de grupos reais em nossa época é confuso, complicado, démodé. Preferimos seguir os passos do modismo, falamos dos vários amigos das redes sociais, o que nos interessa é a quantidade e não a qualidade.


"Não somos mais o que éramos, nem lembro se éramos como hoje somos, pois somos aquilo que temos, fazemos aquilo que todos fazem, fazemos parte de comunidades que traduzem quem somos. Enfim, se sou o que somos então nada sou ou nada somos".                                                                                                       (Kárcio Oliveira)


Fomos convidados, contratados e comprados pelo capitalismo para assassinar a história, o real, a afetividade e nos deram o poder de viver superficialmente, de amar superficialmente, de criar laços afetivos superficiais e descartáveis, nos converteram a religião do consumismo, do hedonismo, do pragmatismo e hoje fazemos parte da comunidade dos urbanóides alienados virtuais consumistas exagerados anônimos, onde ajudamos a imergir a nossa subjetividade, nossa reflexão, nossos sonhos e o outro.


Compreende-se que a pós-modernidade esta correlacionada com a busca do inexistente, do impossível. A confusão criada pela miscigenação entre o real e a simulação virtual causa uma emaranhada teia de conflitos interiores, resultando numa sociedade individualista, depressiva e egoísta, pessoas que vivem de aparências. Fazemos culto ao presente, ao imediato, ao agora, falamos o essencial para não perdermos tempo, perdemos a prática da escuta e ouvimos apenas o que nos interessa, o que julgamos necessário.
- Seja mais um, ou não seja ninguém! Esse é o lema da pós modernidade, ser mais um na multidão, sem diferenças ou distinção, sem verdades ou mentiras, sem amor e sem ódio, sem você mesmo, no vazio, no receptáculo do nada.


Vivemos de rótulos, e passamos a rotular tudo que vemos pela frente, assim, inventamos o preconceito, a discriminação e pensamentos estereotipados, não fazemos parte do grupo, fazemos parte da massa, da maioria, dos normais, a quantidade sugere força, a afetividade sugere fraqueza. Aprendemos desde a infância a estrutura do poder, sempre somos submetidos a uma autoridade superior, tendemos a replicar essa superioridade quando nos tornamos adultos, usamos de poder e não da autoridade para supervalorizar nosso eu, tornamo-nos narcisistas, banalizamos opiniões e pessoas, o diferente se torna uma anomalia.


Talvez a explicação hipotética do consumo desenfreado de drogas na atualidade parta do princípio do simulacro, ou seja, as redes de comunicação vomitam tantos paradigmas inalcançáveis, que o indivíduo aceita a sugestão de se drogar para alcançar o lugar ideal, um companheiro ou companheira ideal, pensando que “se eu beber essa cerveja vai surgir uma mulher perfeita em meus braços” claro que esse pensamento é de ordem inconsciente, da mesma forma que acontece no consumo de outras drogas. O que causa a dependência é exatamente o curto-efeito dessas substancias alucinógenas que leva o indivíduo a consumir cada vez mais. Isso é resultado do vazio existencial. A religião assim como as drogas serve como fonte de energia. Na religião o indivíduo busca o ideal de libertação, prosperidade, e após ser alimentado de esperanças volta para sua vida real recarregado de ilusões.


O pós-moderno especulado neste texto nos causa a impressão pessimista de morte da nossa subjetividade, em parte isso é verdade, mas apesar disso podemos identificar grupos como, por exemplo, algumas poucas famílias, estudantes e em particular os acadêmicos dos cursos de psicologia e filosofia que na sua prática acadêmica são levados à reflexão ou a luz subjetiva. Enfim, a dinâmica de grupo de fato existe, porém é mecanizada e maior parte dela é integrante de agrupamentos e possuem mais aspectos de desintegração do que integração.







Kárcio Oliveira é acadêmico do curso de Psicologia, apaixonado por música e mistérios da mente humana, viciado em livros e filmes e escritor nas horas vagas.


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